E a guerra colonial acabou?
Não. Não acabou. Toda a guerra depois de finda ainda vive em nós.
Uma guerra não acaba enquanto houver um último sobrevivente e enquanto os familiares ou amigos, que sofreram danos colaterais tiverem memória.
A absurdez e perversidade da guerra colonial marcaram a saúde, a personalidade e a carreira do autor, assim como o seu estilo de escrever.
Aqui são retratadas as vivências de um miliciano, em jeito de alter ego, forçado a entrar numa guerra de causas e motivações alheias, em condições muito adversas. Uma guerra sem fundamento, sem preparação e sem solução. Uma guerra para onde foram lançados, à sua sorte e ao seu primário sentido de sobrevivência, milhares de portugueses subtraídos do seu ambiente, esbulhados da normal alegria da juventude.
Os traumas adquiridos para a vida toda, incluindo a “culpa do sobrevivente”, refletem-se, de certo modo, em alguns relatos.
Como bem disse o médico Gerhard Trabert: “Quem sobrevive sente-se culpado por ter sobrevivido e os outros terem morrido”. Por ter, quiçá, matado para sobreviver.
Num tempo em que outros Estados apontavam esforços ao desenvolvimento das suas próprias metrópoles, visando maximizar o bem-estar dos seus povos, em Portugal, os “cabeças de ouro” massacravam e a dizimavam a juventude, amputando famílias e traumatizando gerações.
Ireneu de Sousa Mac cresceu numa aldeia da Bairrada, onde nasceu em 1948.
Concluída a escola primária, o autor começou a trabalhar na agricultura familiar. Aos 18 anos, pensando num futuro melhor, ingressou num colégio como aluno adulto externo. Em 2 anos, por método e força de vontade, concluiu o 5º ano do liceu com reconhecido êxito. A dois meses do fim do curso (6º e 7º anos), com expetativas de sucesso, o autor foi chamado para a guerra colonial, ficando impedido de concluir o seu projeto. Depois da guerra, trabalhou e estudou, obtendo um bacharelato.
Com a experiência como professor na escola regimental de Mansoa, na Guiné, da qual foi cofundador, e como voluntário na escola primária da aldeia na preparação para exames da 4ª classe, o autor dedicou-se ao ensino, com mochila de nómada às costas. Repartindo-se entre trabalho, família com dois filhos e viagens entre Viseu (onde vivia e lecionava de dia), Coimbra (onde estudava, à noite) e Algarve (onde se casara), concluiu, com sucesso e em tempo útil, a licenciatura em Controle de Gestão.
Após uma concomitante experiência numa empresa privada, optou pela carreira docente no Ensino Secundário (com incursões na formação profissional privada e como formador de professores estagiários nas ESE de Viseu e Coimbra) e pela família.
Alice Adelina –
Ireneu! Fui seguindo os teus textos que dão testemunho do que foram anos “negros” da nossa história e que tu contas de modo realista, mas também emocionante, às vezes com alguma ironia até. A tua escrita é muito boa e criativa, sabendo criar o suspense…
Espero também que tenha sido para ti uma catarse dos dias de sofrimento.
Depois de ler o livro, reafirmo que a tua tua escrita bem delineada, transparece o sofrimento do Mac, o jovem que viu os sonhos interrompidos por uma guerra, que não era sua. Mas transparece também a coragem, a camaradagem e a luta por um destino melhor. O Mac voltou. E se ainda nele se trava uma luta pelo esquecimento é porque para um homem sensível não é de todo possível não sentir a revolta por uma guerra que ninguém quis e que foi injusta. E o leitor fica suspenso em cada episódio escrito, lendo com avidez “as histórias e os perigos de uma guerra de guerrilha entre irmãos “. Parabéns Ireneu pela tua escrita e pela tua coragem!
Alice Adelina
Alegria Faustino –
“Era uma vez na tropa” … uma excelente leitura que me foi oferecida pelo Ireneu, um camarada dos nossos tempos de Guiné, relatos que nos remetem para o tempo do conflito, as circunstâncias, os momentos, as vicissitudes, as coisas da tropa que nos foram comuns. A leitura do Capítulo XXl, páginas dolorosas daquilo que é a guerra, o absurdo da mesma, onde se vêem coisas horríveis, se vivem coisas horríveis e se fazem coisas horríveis. O tempo que marcou o Mac é o mesmo que nos marcou a todos, Combatentes, Guerreiros de um tempo que nos minou a memória, a alma e o coração. E a memória, essa, é “o pior inimigo do nosso repouso – Miguel de Cervantes”. O meu abraço ao Ireneu, o nosso Mac.
Alegria Faustino
Manuel Frazão Vieira –
“ERA UMA VEZ NA TROPA”.
o livro é um pedaço de vida partilhada com memórias de uma vida. Na sua leitura ficamos, em suspenso, por querer saber o que vem a seguir. Leitura muito agradável, frases curtas, acessíveis, com estética, numa linguagem coloquial de perguntas e respostas bem inseridas. Gostei. Vi-me e revi-me em muitas situações descritas, em 72/74. O livro tem todos os condimentos para o sucesso, pelo que aconselho a sua leitura. Valeu a pena! Forte abraço
Manuel Frazão
Nuno Nascimento Martins –
Já li o teu livro. O livro é a tua catarse, e foi a tua libertação; é a herança imaterial e eterna que deixas aos teus filhos e netos. É isto que penso quando escrevo e foi o que reflecti no fim da leitura. Todos nós temos o dever de deixar essa herança imaterial.
E tu abordas também a inexperiência e falta de formação dos soldados que partiam sem a mínima ideia do que iam encontrar e de que se podia morrer e matar. Este erro cabe por inteiro à instituição militar.
A maneira como escreves é de cronista e esse estilo apega os olhos ao livro. O estilo da escrita melhora à medida que avanças na crónica. Para escrever bem é preciso escrever todos os dias. Não é fácil escrever na comopanhia de um alter ego; Eça faz isso em “A cidade e as Serras”.
Nuno n. Martins